Texto de convidada: “Vício frenético” por Roberta Silvestre

Depois de um bom tempo sem aparecer por aqui, Roberta Silvestre nos premia com essa crônica de tirar o fôlego. Sem mais, aí vem o texto!
Vício frenético
Era manhã e vi a oportunidade de tomar uma dose. Sim, bebi antes das nove horas da manhã. Não podem me julgar. Sei que se tivessem passado tanto tempo sem o delicioso sabor desse veneno, também iriam aproveitar a ocasião. E aproveitei. Deliciei-me a cada gole. Sorvi o líquido até a última gota. Sim fiz a indelicadeza de lamber a taça. Eu simplesmente não podia desperdiçar nada. Não sabia quando poderia beber novamente.
E aproveitei aquele torpor, de uma dose ridiculamente pequena. E eu ri sem parar por causa da deliciosa embriaguez. Fazia tempo que não ria tão leve. Passei tempos na escuridão, sem o sabor delicioso. E zonza dancei sozinha, pensando que estava contigo. Trôpega, caí e me machuquei. Mas quem disse que liguei? Eu estava simplesmente anestesiada... Mas o efeito foi passando e passando. Percebi que foi tudo uma ilusão.
Então veio a parte do choro. Um golinho que bebo de ti, fico assim. Primeiro feliz, pela falsa ilusão de estar sendo correspondida. Depois o teu efeito passa e percebo que nada daquilo existiu. E então vem o desespero, a dor e a vontade de quero mais. Isso mesmo, quero mais dessa falsa impressão que me queres, quero mais essa ilusão de te ter, quero mais e mais você.
E passo a me odiar. Porque fiz isso novamente? Porque me envenenei contigo? Eu sei dos efeitos e mesmo assim quando tenho a oportunidade, prefiro te beber. E corro atrás, imploro silenciosamente por mais uma gotinha de ti.
Isso é felicidade? Como posso ser feliz se tu não queres beber de mim? Mas eu não me contenho, quando posso largo tudo e embriago-me de ti. É um vício frenético. E quanto mais eu bebo, mais eu quero de ti.
Aí vem a fase da falsa superação. Prometo a mim mesma que nunca mais beberei teu veneno. Fico forte por um tempo. Consigo me controlar. Finjo que não existe o teu aroma. Ignoro as oportunidades que posso desfrutar de mais uma gota. Finalmente estou me valorizando. Finalmente estou me libertando.
E como todo viciado, vem aquele momento de carência, de fraqueza... Procuro outros sabores. Bebo uns deles. São bons, mas me satisfazem apenas por aquele curto momento. Quando o efeito deles passa, o seu volta com mais força. E sinto uma sede de ti desesperadora. Começo a alucinar com a abstinência...
E então, mais tarde, depois de tanta agonia, prometo que tomarei apenas uma gotinha inofensiva. Hummm, que delícia. Finjo que estou saciada. Mas o efeito chega a minha cabeça, toma conta do meu corpo. Não aguento mais. Bebi, uma, duas, três e muitas doses de ti. Que sensação maravilhosa de que te tenho que me queres. Sinto-me acalentado pela embriaguez.
Meu Deus, preciso de uma clínica de reabilitação. Por favor, me internem! Sou viciada em ti! Afinal, isso é amor ou doença?!

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