Era 2009, meu ano de vestibular e já fazia dois anos que estudávamos na mesma escola, mas nunca tínhamos nos visto antes. O destino nos juntou quando ficamos na mesma turma no terceiro ano do Ensino médio e escolhemos a turma especial preparatória para o ITA e o IME. Ela nem queria ir para essas universidades, estava ali porque queria uma preparação diferenciada para tentar ingressar na UFPE, e saber disso foi o primeiro fato que me fez admirá-la. Não é qualquer um que tem a força de vontade de se submeter a rotina de estudos pesados dessas turmas especiais apenas para chegar na UFPE mais bem preparado. Aos poucos fomos nos aproximando e lembro que brincando naquela época, eu dizia que ela era a “ice girl” sem sentimentos devido a sua natureza racional de ser e pensar. Eu achava isso notável, mas não erámos tão amigas ao ponto de eu sentir liberdade de comentar isso com ela. Saíamos sempre em grupo para almoçar e na última vez que isso ocorreu, lá pelo final do ano, fomos apenas eu e ela. Lembro de que conversamos sobre várias coisas e dentre elas falamos sobre o fato de que muitas pessoas eram apenas colegas e não amigas porque estavam juntas devido a convivência e não porque de fato tinham uma ligação. Comentamos até que provavelmente com o tempo, nós perderíamos o contato e um dia seríamos apenas conhecidas de um tempo distante na escola. Mas não é que a vida nos surpreendeu?
Eu acabei decidindo que desistiria de tentar o ITA e o IME e assim, eu e ela entramos na UFPE ao mesmo tempo. Não pagamos nenhuma cadeira na mesma turma até o quarto período, quando na última chance de estar com o mesmo professor, ficamos então juntas nas aulas de Cálculo 4. Mesmo com as personalidades diferentes, começamos a ficar mais e mais amigas. Passei a admirar ainda mais o jeito dela e muitas vezes nos meus momentos difíceis, tentei me inspirar na forma madura com a qual ela lidava com os problemas de todo o tipo. Meu temperamento expansivo era compensado pelo jeito mais calmo dela e sempre que eu precisava de uma opinião realista, tipo essas que podem ser um banho de água fria nas minhas ilusões, eu recorria a ela(assim como também fugia quando não queria ouvir as verdades indesejadas). A ela fiz tantas confissões e ela se irritava se eu demorasse muito a contar as coisas, afinal ela nunca gostou de ser a última a saber dos fatos. Apesar da aura de autocontrole que ela passa, às vezes ela vinha até mim para pedir conselhos também e nesses momentos eu ficava muito feliz de ela confiar no que eu dizia, mesmo que meus pontos de vista sempre favorecessem o coração e muito pouco da razão. Jamais esquecerei da primeira vez em que a vi chorar, era por uma desilusão, e eu chegava a imaginar que ela era diferente das outras mulheres porque não se deixava abalar muito por essas dores. Nesse inesquecível dia, eu a vi como uma mulher comum pela primeira vez e achei bom conhecer esse lado mais humano e frágil dela, ainda que fosse numa situação triste.
Juntas desenvolvemos muitas amizades e a maior delas foi com nossa amiga querida Gadadhara. Inúmeras vezes saímos em trio a conversar sobre assuntos diversos e tanta coisa aconteceu nesses anos que passamos juntas andando pelos corredores do CTG e da área II na UFPE. Desde o primeiro período passando pelas gazeadas nas aulas de introdução a Engenharia, nas fofocas sobre as calouradas(que ainda rolavam naquela época), nos boatos que sempre rolavam pela área II, nos garotos que passaram em nossas vidas(alguns por pouco tempo e outros por muito tempo) até finalmente chegar ao ponto em que eu olho para trás e vejo o quanto amadurecemos juntas, o quanto aconteceu na nossa vida e o quanto nós crescemos como mulheres nesses últimos anos. Quando entramos na universidade ainda éramos apenas meninas e agora olho para nós e vejo as mulheres do futuro que estamos nos tornando a cada dia que passa. Mulheres essas que mesmo com a falta de tempo, ainda espero que sejam amigas para sempre.
Há algum tempo eu soube que ela iria passar um ano longe, estudando na Finlândia.
Graças a ela eu descobri que a Finlândia é a terra do Papai Noel e que lá pode ser absurdamente mais frio do que eu supunha. A última vez que nos encontramos foi na visita ao Castelo de Brennand e como ela não gosta de despedidas, não dissemos adeus. Até porque isso não foi um adeus, mas sim, um até breve não é? Um ano passa rápido demais e logo logo ela estará aqui em Recife para ouvir meus desabafos, minhas idiotices e minhas loucuras e então me dar aqueles conselhos que só ela sabe me dar. A saudade é grande, mas tenho muitas lembranças com ela para poder acalmar o coração enquanto a distância é grande.
Até logo, Marília.
PS.: Chora não! Afinal, tu és boiolão?! Hahahaha
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