Ninguém sai esplendoroso nessas fotos, né?
Não sei se essa notícia é tão boa para as ruas do Recife como ela é pra mim. Mas me parece que finalmente chegou o momento de aprender a andar nessa cidade, ou então de conferir os preços de GPS pra carro…
É claro, que como diria meu pai, nada na vida vem sem esforço, e assim com esse pensamento na cabeça fui fazer a primeira visita a autoescola. O choque inicial é quando perguntamos o preço total que temos que pagar…
- Então, moço, pra fazer tudo, quanto tenho que pagar?
- Bom, você quer só carro ou carro e moto?
- Ah… Apesar de querer os dois, vai ser só carro mesmo.
- O quê? Você quer os dois?
- Não! Eu quis dizer, quero, mas só tenho um desejo interior de dirigir moto, não que eu vá tirar a carteira de motorista para moto…
- Ah, certo… Bom, então fica 500 reais.
- 500 reais completo? Tudo pago?
- Sim, mas só garanto esse preço até amanhã no máximo, depois disso vem uma lei nova que vai aumentar para 900 reais o valor…
Nesse momento senti-me num daqueles filmes em que alguém é raptado e precisa arrumar um montante enorme de dinheiro em espécie pro dia seguinte. Assenti para o homem da autoescola que faria o meu melhor pra trazer o dinheiro amanhã. Afinal um aumento de 400 reais não era brincadeira. Não para pessoas normais, pelo menos.
Quando a noite chegou e meu pai me deu o dinheiro na hora tive certeza que aqueles duendes com potes de ouro se disfarçavam de gente. Ok, para mim aquilo era mais que minha mesada de dois meses, então deu uma pena enorme de entregar na hora da matrícula. Mas essa tinha sido a parte mais fácil do processo para tirar a carteira de motorista. A parte realmente chata ainda estava por vir.
A hora de visitar o DETRAN e começar oficialmente o processo.
Graças a Deus eu era uma menina sortuda e não fui sozinha. Uma amiga querida minha me acompanhou e lá ficamos “reparando no ambiente” por sei lá quanto tempo. Só o que minha consciência humana tinha guardado no campo das memórias foi que saí de casa de 13:30h e só tirei a foto de 16:30h. Todo o resto ficou anuviado por flashes de lembranças… Números de fichas chamados numa telinha, o rosto de tédio dos funcionários, as dores nas futuras varizes que eu teria por passar tanto tempo de pé parada, um velhinho penteando seus raros cabelos com um pente de bolso antes de tirar a foto(e todos achando graça dele porque não tinham mais nada o que fazer)… Algumas pessoas pareciam divertidas de observar, e eu admito que adoro observar as interações sociais humanas. Uma garota mais ou menos da minha idade não tirava a orelha do celular, não sei de onde ela tirava tanta fofoca conspiratória pra espalhar, um caminhoneiro que estava perto de mim também a observava(mas com outros olhos, se é que me entendem). Um menino que devia ter 18 anos recém completados, porque me parecia ter uns 15 na verdade, aguardava na fila olhando timidamente para mim como se buscasse um consolo conversando com uma estranha da sua faixa etária. Uma mulher vestia um macaquinho curtíssimo como se voltasse da praia e expunha pedaços de pele que deveriam permanecer cobertos pelo bem da visão das pessoas do lugar. Eu olhava cada um deles, conforme a fila ia diminuindo, olhar-se no espelho, tentando melhorar a aparência cansada devido a espera interminável…
Eu via que mesmo as pessoas com boa aparência saiam tristemente ruins nas fotos. Não faziam jus a sua realidade. Aquelas fotos eram bem injustas. Pareciam um rebanho de bois indo pro abate, todos faziam caras de medo e tensão. Foi aí que reparei no local onde se tiravam as fotos. Era escuro, onde todos podiam te ver, com uma cadeira e um banner branco atrás. Colocavam um flash enorme na câmera para compensar a falta de luz do lugar, que por sinal parecia ter sido projetado para tornar as pessoas feias em registros para posteridade.
Havia chegado minha vez. Minha amiga se fora há mais de meia hora, pois tinha um compromisso. Eu já estava exausta. A moça que me atendeu riu de pena de mim assim que me sentei a frente dela. Pelo visto eu não estava fazendo a cara de “oi, tudo bem, já é minha vez? Que ótimo!” e sim a cara de “se essa merda demorar mais um segundo eu vou quebrar esse DETRAN inteiro!!”. Ela foi bem simpática comigo apesar da minha notável imbecilidade nesses momentos de tirar documentos e afins. Fui olhar-me no espelho também, meu cabelo escuro caía preguiçosamente na minha pele branca e pálida pelo cansaço, não estava mal, mas eu sabia que não adiantava a ilusão de querer parecer bonita num documento qualquer que fosse.
Foto tirada, preferi nem olhar o resultado. Eu disse a moça que levaria o susto quando fosse buscar a carteira pronta. Ela riu do meu sarcasmo e pediu minha identidade e CPF. Riu mais uma vez com a minha foto da identidade, mas fazer o quê, essa era a reação padrão. Eu tinha 15 anos na época, meu cabelo estava curto e lambido(por conta do pente que meu pai havia me obrigado a usar), usava uma maquiagem exageradamente pesada e argolas que ficavam ridículas nas minhas orelhas. A blusa também não combinava com o conjunto descrito anteriormente. Enfim, era uma fracasso de foto. Depois de ela se convencer que aquela era eu, passou a mandar que eu gravasse minhas digitais de 1000 modos diferentes.
Agora eu sabia que a CIA e o FBI poderiam facilmente me prender caso eu quisesse MESMO destruir todo o DETRAN pelo estresse causado. Terminado mais essa burocracia(que demorou muito porque meus dedos eram tão fracos que não conseguiam fazer a máquina ler minhas digitais e a moça ter que pressioná-los com força para terminar a tarefa) finalmente fui liberada.
Saí contente porque ainda tinha sanidade e iria fazer algo melhor depois. Mas enquanto digito esse post, lembro-me que amanhã é o dia dos exames médico e psicotécnico. Eu odeio ir ao médico e não gosto de psicólogos.
Odeio mais ainda é que vou acordar cedo e perder um dia de vida nisso.
Mas isso é assunto pra outra conversa.
Gostei da sua história - verídica, eu sei.
ResponderExcluirNão vejo a hora de tirar a minha habilitação. Mas lendo essa postagem deu até uma tristeza hehehe
Mas okay. Isso só vai acontecer daqui a um ano =D
Maria~
Kkkkkkk eu ri do velhinho do pente o/ hahah publica a foto da carteira no blog??kkk brincadeira(ou não) bj ;)
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