Texto de convidada : “Mais uma de amor” por Roberta Silvestre


O texto que posto aqui hoje é um conto de autoria de uma amiga minha querida, que atende pelo nome de Roberta Silvestre. Ela escreveu essa história há algum tempo já e como não tinha publicado em lugar nenhum, perguntei se ela não gostaria de colocar aqui. Fico super feliz em ter textos de outras pessoas por aqui, ainda mais quando é uma ficção com a cara do blog. Sem mais delongas, aí vai o texto!


Mais uma de amor
Como sempre acontece nas férias de verão, hoje fui andar na praia. Gosto muito de caminhar porque me deixa bem relaxada, calma. Gosto também porque fico sozinha, vagando nos meus pensamentos.
No geral costumo andar pela manhã, a não ser que a maré esteja seca à tarde. Nada melhor do que depois de uma longa caminhada cair na água. Por esse motivo, que fui andar por volta das quatro horas hoje à tarde.
A praia estava uma delicia. O sol já não batia diretamente em mim por causa das sombras dos prédios. Havia muitas crianças brincando, família reunida, amigos conversando, em fim uma alegria só. E eu adoro observar tudo isso. O que eu adoro no verão e no clima de férias, é que as pessoas parecem mais felizes.
Foi vagando nesses pensamentos, tentando veementemente afastar uma pessoa em especial da minha mente, que fui surpreendida por alguém me chamando. Continuei andando pensando que não era comigo e sim com uma menininha que estava por perto.



- Sei que a sua última nota na minha matéria não foi muito boa, mas não precisa me ignorar, né?- imediatamente reconheci a voz rouquinha que tanto gosto.
- Oi, professor!- falei me virando para ele.
- Professor? Não precisa disso aqui não. Adriano, por favor.
- Certo, Adriano. E aí, tudo bem?- perguntei com o coração aos pulos. Em geral é assim que fico perto dele. Suas aulas eram ao mesmo tempo uma tortura e um alívio para mim. A tortura era por amá-lo e o alívio era por amá-lo também. Uma dicotomia sem solução. Falando sério, não como eu não enfartei em uma de suas aulas.
Comecei a ter aulas com ele pela manhã, fora as duas aulas que tinha a tarde de reforço. A matéria que ele ensina, definitivamente não é o meu forte, mas fazer o quê, né? Na realidade eu já tinha tido umas quatro aulas com ele uns dois anos atrás, logo que entrei no colégio. Mas não foi o suficiente para conhecê-lo, mas o suficiente para reconhecê-lo e ser reconhecida por ele quando comecei a ter aulas com ele efetivamente.
Foi nessa convivência de no total quatro aulas semanais que aos poucos fui me apaixonando por ele. Poxa vida, eu o via por quatro dias, mais da metade de uma semana, não pude evitar, apesar de ter tentado muito.
Ao longo do ano passado e desse ano, sempre conversamos muito. Certo, no geral eram com outras pessoas por perto, mas assim fui conhecendo quem realmente ele era. Raras eram as vezes que ficávamos sozinhos. Essas ocasiões aconteciam quando eu ficava até mais tarde para tirar dúvidas com ele. Mas sempre surgia uma conversa que se estendia até ele ter que dar outra aula. Foi assim que me apaixonei por Adriano.
Eu estava vagando em todos esses pensamentos e tentando acalmar meu coração que ele respondeu como estava e nem ouvi.
- Carol? Carol? Está tudo bem?- perguntou com ar de preocupação. – Estou te entediando?
- Como? O quê? – aí eu me sintonizei. Estava na praia, com Adriano ao meu lado. – Está tudo bem sim.
- Bom, como eu estava perguntando, você está fazendo o quê aqui?
- Caminhando- Carolina, mantenha a calma, ordenei a mim mesma.
- Sozinha?
- Sim, por quê? – Será que eu estava parecendo uma solitária sem amigos?
- Só para saber mesmo. Posso te acompanhar? Não gosto muito de ficar só não.
- Tudo bem- falei me virando para a direção que estava caminhando antes de Adriano chegar. Mas desastrada como sou, tropecei num banco de areia que tinha na minha frente. Só não caí porque Adriano me segurou.
Após alguns minutos rindo da minha cara ele disse:
- Tropeçar numa areia?- e não parava de rir. – só você mesmo.
- HAHA. Muitíssimo engraçado. Pode rir. De preferência até que seu queixo se desloque e você pare. – Falei irritada.
- Desculpa, desculpa. Não precisa ficar tão irritada. – Falou fazendo força para não voltar a rir.- O que a senhorita anda fazendo na férias?
- Nada de especial, só tendo mui...
Não terminei a frase, porque repentinamente, Adriano tinha parado, xingava horrores segurando o pé.
- O que houve?- perguntei preocupada.
- Pisei numa droga de tampinha de garrafa com o meu dedo machucado.
- Eu pensava que professores não deviam falar palavrões diante de um aluno. - Falei rindo, sem saber o porquê.
- Epa. Nem fale isso. Aqui eu NÃO sou o seu professor. – Ele estava sério e olhava o seu dedo sangrando.
Eu estava rindo, toda idiota com a presença dele, mas não pude deixar de reparar que ele enfatizou bem o não. Podia ser também minha mente apaixonada em busca de uma ilusão.
- Vai lavar logo na água, menino. - falei puxando-o em direção ao mar.
Quando colocou o pé na água voltou a onda de xingamentos. Realmente, água salgada não é agradável para feridas.
- Ei, não é porque você NÃO é meu professor aqui, que precisa xingar desse jeito na minha frente, né?- Também fiz questão de enfatizar o não
- Foi mau. Você tem toda razão. Mas é porque essa porcaria está doendo muito. Machuquei nesse fim de semana jogando bola.
- Ah, ta. Mais cuidado da próxima vez então. – Disse de um jeito todo protetor.- Acha que consegue continuar a nossa caminhada?
- Claro que consigo. – Disse me puxando na direção em que estávamos caminhando.
Caminhamos por um bom trecho conversando bastante. O que me fez ficar ainda mais apaixonada por ele. Ele é muito humano, preocupado com os outros e é bem divertido, uma boa companhia. É o cara perfeito, dos sonhos de todas as garotas. Confesso, ele só não é lá muito bonito. Inclusive tenho professores que considero muito mais bonitos que ele, mas o quê isso importa diante da bondade dele?
O calor estava de matar. Estávamos nas sombras do prédio, mas o dia estava abafado, sem vento, totalmente parado.
- Bora ir pro mar um pouco que estou morrendo de calor. – Falei me abanando com a própria mão.
- Sei que calor é esse, viu? E posso garantir que não é a água que vai refrescar.
- Ãhn?- Eu realmente não tinha entendido, franzi minha testa para enfatizar minha incompreensão.
-Deixa para lá. Vamos pro mar que também estou com CALOR. - estranho, muito estranho o modo como ele estava falando.
Para entrar na água, claro, tivemos que tirar a roupa de cima. Quando tirei minha blusa e minha saia, escutei-o assoviando baixinho, que não era para eu ter escutado. E fiquei paralisada quando ele tirou a camisa. Nunca que eu imaginei que por debaixo da roupa havia um deus grego esculpido. Seu abdômen é todo definido, mas nada muito exagerado. Sempre imaginava que ele tinha um corpo magrelo com quase nenhum músculo. Enganei-me, e muito.
Em fim, depois de eu ter me recuperado do corpo escultural de Adriano, fomos para a água. O mar estava uma delícia e conversamos sem parar. Ele me contou das ex-namoradas dele e me perguntou dos meus.
- Namorados?- ri um pouco nervosa.- Nunca tive.
- Porque?- Adriano ficou curioso, deixando-me extremamente encabulada e vermelha.
- Ah, sei lá. Sempre me apaixonei pelas pessoas erradas. - respondi muito constrangida.
- Como assim?
- Sei lá. Tipo o namorado da minha amiga.
- Que horror.- Falou chocado.
- Pois é. Mas para minha defesa, eu já era apaixonada por ele antes deles começarem a namorar.
-Ah ta. Não deve ter sido fácil.
- E não foi mesmo.
- Mais qual tipo errado você se apaixonou?
- Um cara mais velho do que eu.
- Quantos anos mais velho?- perguntou com certo interesse.
- Dez anos mais velho. - fui traída pelo meu organismo, que deixou meu rosto todo vermelho, afinal era dele de quem eu estava falando.
- Ah, peraí, o cara tem a minha idade. Ainda está muito jovem. Na flor da idade, na verdade. – disse ele rindo e um pouco na defensiva.
- É, vocês ainda estão na flor da idade, mas não se apaixonam por pirralhas como eu.- Eu devia estar roxa nessa hora.
- Olha que nos apaixonamos sim. – ele ficou sério naquele momento. – E você não é uma pirralha.
Um longo silêncio constrangedor se instalou entre nós.
Notei que Adriano ia fala mais alguma coisa, para evitar o clima estranho que estava, comecei a boiar. Surpreendi-me e até parei de boiar, quando ele segurou minha mão.
- Porque parou de boiar?- ele ainda estava boiando coma a mão segurando a minha.
- Você está segurando a minha mão. – eu estava muito sem graça.
- Algum problema?- perguntou sem se alterar.
- Não. Só é estranho.
- É para não nos perdermos. – explicou-me.
- ah ta. Faz sentido. - Então voltei a boiar com as nossas mãos ainda entrelaçadas e o coração nas nuvens.
Nem sei por quanto tempo boiamos. Quando eu cansei, mergulhei com tudo no mar.
Quando estávamos nos preparando para sair, um senhor que tinha entrado na água enquanto boiávamos, falou:
- Vocês formam um belo casal.
- Haha, não somos um casal. – falei constrangida e ficando muito vermelha. Claro que eu estava pensando “bem que eu queria senhor”.
- Pois parecem. Sinto uma aura muito forte entre vocês dois.
- Eu concordo com o senhor. Ela está com vergonha por eu ser mais velho do que ela. – Adriano falou se divertindo. – Obrigado, senhor. Agora ela vai deixar de bobagem e assumir de vez nosso relacionamento. Agora tenho que levar minha garota para casa. Tchau.
Antes de sairmos do mar, o senhor acrescentou:
- Minha filha, não se envergonhe do seu namorado. Dá para ver que vocês se amam.
Sai da água, acenando gentilmente para aquele senhor. Pegamos nossas roupas e andamos no caminho de volta a minha casa.
- que velho maluco. – Comentei nervosamente. Na realidade o que o senhor disse mexeu muito comigo.
- Não acho. – Adriano falou sério.
-Ah, fala sério. E sua história foi nada convincente.
- Que história?- ele estava distraído.
- A que tenho vergonha de admitir nosso “namoro”, porque você é dez anos mais velho do que eu.
- Por quê? - perguntou sem interesse.
-Até parece que eu teria vergonha de namorar com você. – Não sei porque eu respondi aquilo, apenas veio e não consegui parar a tempo. E acho que essa foi a coisa errada a ser dita.
Achei isso porque Adriano me olhou rapidamente nos meus olhos e baixou a cabeça num silêncio incômodo. Não falamos mais nada durante o percurso de volta. Até tentei puxar alguns assuntos, mas eles logo morriam. Chegamos ao local aonde eu iria para a minha casa e paramos para nos despedir.
- Tchau, Adriano. Obrigada pela companhia. – E me virei dramaticamente para ir embora.
- Espera, acho que devemos conversar.
- Tenho que ir. Já está ficando tarde. Já está escurecendo. – Eu queria era ir embora e me livrar logo dessa situação desconfortável.
Até parece que ia ser fácil assim. Ele segurou meu braço, impedindo-me de ir embora. Então sentei na areia.
- Fala, então
- Você gosta de mim?- Perguntou.
- Claro que sim- falei envergonhada. Mas logo acrescentei – Nunca neguei isso. Você é um dos melhores professores que tenho.
- Não é disso que estou falando. – Parou por um momento. – Me desculpe a ousadia, mas você é apaixonada por mim?
- Não, mas é claro que não. – ri nervosa. Dava para perceber que eu estava mentindo. – que idéia mais absurda.
-Você É apaixonada por mim. – afirmou ele esboçando um sorriso.
- Não sou não. Mas olha, Adriano, tenho que ir.
Levantei-me para ir embora. Mas antes de me afastar, Adriano me puxou pelo braço, trazendo-me para junto dele, colocou seu outro braço na minha cintura minimizando a distância entre nossos corpos. E quando eu menos percebi, seus lábios estavam sobre os meus. Então me entreguei naquele beijo que parecia nunca terminar.

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