Chico Bento cresceu?

 

De repente, pipocam em sites de notícias que ele ganhou uma versão “crescida”. O assunto vira, como de praxe, motivo para piadas em redes sociais e logo minha curiosidade se atiça pra descobrir o que danado tinham feito com um dos meus personagens preferidos do Maurício de Sousa. Lendo as informações que encontro por aí, entendo que ele se tornou um ex-caipira forte, sexy, estiloso, sem sotaque, calouro de universidade.

E essa descrição me pareceu um tanto supérflua e absurda. Resolvi tirar minhas conclusões por mim mesma e comprei então a edição de lançamento de “Chico Bento Moço”.

 

chico bento

Devorando as páginas!

 

Depois de ler duas vezes todas as páginas do gibi (ou mangá, ou mangá abrasileirado, sabe-se lá como se classifica aquele tipo de quadrinhos), finalmente posso dizer o que aconteceu com nosso querido Chico e se ele realmente se tornou um adulto. Nesse post, amigo leitor, eu conto pra você.

 

Que tal dar uma olhadinha no comercial?

 

Assim como várias gerações de crianças, eu cresci lendo os gibis da Turma da Mônica. Era uma diversão tão genuína que até hoje ainda acharia um bom passatempo ler aqueles quadrinhos. Lembro que quando eu era pivete, meu pai me proibiu de ler as tais revistas porque ele achava que eu aprenderia a escrever e ler errado por conta da falha que o Cebolinha tinha ao trocar as letras “r” por “l” e também por conta do jeito matuto que o Chico Bento se comunicava.

 

Lomogram_2013-09-07_12-07-10-AM

Como não adorar todos eles? Impossível.

 

Era claro e óbvio que eu dava minhas traquinagens para burlar essa proibição, já que era mesmo muito legal poder ler as histórias e observar o peculiar comportamento dos personagens de  Maurício de Sousa. Todos eles no fundo, nos lembravam nossa própria dinâmica de infância, com os amiguinhos da rua ou mesmo do prédio, as brincadeiras em que o principal elemento era a imaginação e a rixa besta de meninos contra meninas, coisa bem característica dessa fase inicial de nossas vidas. Eu adorava tudo naqueles gibis, mas especialmente me alegrava em ver a vida simples do Chico Bento, que morava numa cidade pequena do interior. Suas aventuras tinham uma cara de coisa grandiosa, mesmo que fosse num ambiente simples, e sempre nos mostravam pequenas lições e valores bonitos de se guardar, como respeitar e amar a natureza, por exemplo. Para uma criança, esse é o pontapé inicial para aprender a se interessar em preservar nosso meio ambiente e também tentar ajudar nosso mundo com pequenas ou grandes ações.

 

Lomogram_2013-09-07_12-11-42-AM

Ensinando a cuidar da natureza desde cedo Coração vermelho

 

Aconteceu quando eu estava no começo do ensino médio, na escola: lançaram a “Turma da Mônica Jovem”. Naquela época, eu ganhava uma mesada suficiente pra comprar poucas coisas baratas no mês, pequenas alegrias que eu me dava, como comprar um pacote de Fandangos uma vez na semana ou então uma revista Capricho repleta de dicas bestas e um pôster de um famoso bonitinho. Quando soube que a turma de crianças brasileiras mais legais do mundo fictício tinha crescido e se tornado adolescente, resolvi investir e comprar a revista. Comprei a revista de lançamento que vinha de brinde em outro gibi, por isso, eu iria começar da edição zero, coisa de colecionador. Lembro que achei um tanto infantil, mas como era a edição zero, devia ser só uma versão de testes. As propagandas daquele tempo, prometiam que essa nova versão da “Turma da Mônica” seria diferente, que os personagens passariam a lidar agora com os conflitos pertinentes a sua nova idade, ou seja: me veio na cabeça que finalmente eles iam começar a namorar, frequentar festas, curtir músicas de gosto duvidoso, viver no ambiente adolescente, suas nóias e também, seus perigos.

 

Lomogram_2013-09-07_12-08-51-AM

E então todo mundo cresceu…

 

Toda a turma de repente estava com 15 anos, praticamente a mesma idade que eu tinha quando comecei a ler a revista jovem. E em que coisas eu me identificava? Quase nada. Quando eu era criança, eu sentia que aquelas histórias pareciam com a fase da vida que eu estava, mas essa turma jovem só pareceu eles com corpo de adolescente e totalmente linearizados. Talvez não tenha ficado claro porque usei a palavra linearizados e por isso, explicarei. Basicamente quis dizer que todos eles cresceram e perderam significativamente suas características que os tornavam tão únicos. Ora, não que fossem boas ou ruins, mas eram características que os definiam e de repente, todos eles estavam maiores repetindo a torto e a direito, que não eram mais como no passado, falando de um jeito parecido, com gírias que supostamente eram usadas pela nossa geração adolescente. Mas poxa, a diversão não era ver como eles seriam na fase adolescente carregando suas excentricidades próprias? Do nada aparece o Cascão tomando banho, o Cebolinha falando corretamente, a Mônica mais calma e a Magali se alimentando de forma equilibrada.

Qual era a graça disso? Pode soar infantil esperar que os personagens não evoluam.  Mas evoluir é um conceito que pode acabar sendo restritivo e no fim, todos ficaram parecidos e perderam um pouco da sua personalidade com essa “maturidade”. Quão engraçado não seria ver o Cascão com medo de água e tendo compromissos em que precisava estar limpo, ver o Cebolinha passando vergonha por trocar as letras por aí, ver a Magali se entupindo de comida e sendo falsa magra mesmo, ver a Mônica explodindo com todo mundo por conta de besteiras. Ah, perder essas coisas os fez mais maduros? Bem, se pensar como um adulto sem graça, sim, mas isso é ficção e ela foi feita para divertir. O lado bom da turma era exatamente sua capacidade de ensinar coisas boas sem ser chata ou politicamente correta demais. E é isso que essa fase adulta acabou se tornando.

 

Lomogram_2013-09-07_01-32-50-PM

Ignorem as duas edições de “O cortiço”, uma eu comprei e a outra é da minha irmã Smiley mostrando a língua

 

Eu ainda cheguei a comprar muitas edições dessa linha de revistas porque no fundo tinha a esperança que um dia eles iam mesmo crescer. Mas ficaram parados no tempo, eternamente com 15 anos e mentalidade de 12 (e olhe lá, afinal tem pivete com essa idade por aí dizendo que “só dou valor a quem me dá valor”). Eu esperava mais. Pra ser sincera, a adolescência é nosso pontapé inicial pra viver uma porrada de novas experiências que só aparecem quando já passamos da infância e estamos na transição pra fase adulta. Nada de falar da primeira bebida alcoólica, nem da emoção genuína dos primeiros beijos atrapalhados, muito menos do que realmente é o cotidiano de um adolescente na vida real. Quando finalmente percebi que o Maurício de Sousa não iria arriscar muito e manter aquele formato “malhação-sem-sal-e-nem-açúcar” decidi parar de comprar. Mas eis que aparece agora, em pleno segundo semestre de 2013, a versão para o Chico Bento.

Minhas esperanças foram renovadas, porque pelo que eu li na internet, ele iria para a faculdade já, então eu podia esperar que ele vivesse algo parecido com o que eu vivo na minha vida de universitária. E aí, o que será que eu achei lendo as páginas da edição um?

 

Lomogram_2013-09-07_01-35-54-PM

As primeiras folhas Alegre

 

Logo de cara, quando se começa a passar as páginas, encontramos uma descrição separada de cada personagem, dizendo com quantos anos eles estão e que rumo eles pretendem tomar na sua vida acadêmica. O Chico Bento tem 18 anos e tem o sonho de virar engenheiro-agrônomo, pra isso, ele vai estudar numa Universidade localizada na fictícia “Nova Esperança” e experimentar a vida de morar longe da família e estar num curso superior. Já a Rosinha está com 17 anos e tentará a sorte num curso de veterinária, só que na cidade de “Campos Verdes”. Daí você já tira que ele viverá um romance com ela a distância e que vai estar livre e solto morando numa cidade grande. A “Vila Abobrinha”, lar de tantas aventuras de Chico é deixada para trás, e na edição também achamos o seguinte mapa pra nos localizarmos na distância do cenário dessa fase moçoila:

 

Lomogram_2013-09-07_02-19-02-PM

Mapa da história em que “Chico Bento moço” se passa.

 

Uma das coisas legais foi ver a escolha do Zé lelé. Ele preferiu ficar na roça. E não porque tivesse preguiça de ir atrás de algo diferente, mas porque era aquela a vida que ele gostaria de levar pra sempre. Não deixa de ser bonito ver que existem personagens que fogem da regra padrão de querer subir socialmente e tem a sabedoria de serem felizes na simplicidade de uma vida interiorana sem esse arsenal de tecnologias e acontecimentos que torna nossa rotina frenética.

 

WP_20130907_004

De Lelé, ele não tem nada! O mundo já tem muito doutor! Coração vermelho

 

Agora devo alertar que ler daqui por diante, pode ser caracterizado como ler SPOILER. Então, se quiser, pare agora!

Mas eu sei que você não vai resistir. Smiley piscando

 


ALERTA DE SPOILER!!


 

A história começa com Chico falando do jeito de sempre: caipira e divertido como ele sempre foi. Mas então do nada, ele pede desculpa por isso e começa a falar sem sotaque nenhum, no maior rigor gramatical. No começo, ele falava da forma “antiga” para que a vaca Maiada lembrasse que era ele mesmo ali, tentando tirar seu leite, e não um estranho que ela desconhecia. Logo de cara reparamos como o Chico ficou bonito, com pinta de protagonista bonitão e ex-roceiro, cheio de frases de efeito que pretendem ganhar o público feminino. Aqui, ele usa camisa xadrez porque tá na moda e não porque é costume seu de habitante de cidade do interior. Ele conta a família o seu desejo de se tornar engenheiro agrônomo e ajudar a melhorar a qualidade da vida no campo.

Nesse meio tempo, ele vai prestar vestibular e depois a história dá um pulo para o dia em que sai o resultado da prova. Ele encontra com o Zé Lelé e eles vão tomar aquele clássico banho de rio, tão conhecido das histórias do Chico Bento. E é aí que vem nosso primeiro “uau”. Chico ficou forte e muito definido!!!

WP_20130907_014

Quanta saúde!!!! Smiley surpreso

Quando eu digo definido, deu pra sacar que ainda foi pouco, não é? Ele é puro músculos! E ok, nós garotas damos uma suspirada com esse corpo revelado. Mas aí logo em seguida acontece uma cena meio ridícula. A Rosinha aparece e fica muito sem graça com a situação. E é nessa hora que me pergunto: alô, pleno século XXI,17 anos de vida, e ela fica sem graça daquele jeito só de ver um cara sem camisa? Foi aí que a história começou a mostrar que não iria refletir a mente de um jovem de verdade. Ela já era mulher formada, namorava com o Chico Bento desde criança e eles ainda estavam naquela fase de ter essas vergonhas. OK, trata-se de uma história de pessoas que moram no interior, mas não, nem isso pode justificar esse exagero.

WP_20130907_016

Ui, ele tirou a camisa, que ofensivo! Irritado

Mais algumas páginas se passam e Chico mostra como cresceu e tem ideias maduras sobre o futuro de seus amigos. Todos eles passam no vestibular e estão prestes a se mudar para as cidades onde estão seus cursos. Esqueci de citar que a Rosinha ficou bem bonita nessa idade e provavelmente será cobiçada por outros (a não ser que a história não mostre a realidade quase que óbvia de que belas garotas são disputadas). Todos eles se despedem e combinam de se encontrar daqui a um ano. Chico recebe a proposta do primo dele para irem juntos morar numa república de estudantes na cidade de “Nova Esperança”. De malas prontas, ele se despede de alguns personagens que vimos passar por suas histórias quando ele era criança, tal como o icônico Nhô Lau, de quem ele roubava as goiabas, e confesso que me emocionei nessas cenas. Lembrei como foi me despedir de certas coisas para ingressar na vida de estudante universitária.

WP_20130907_017

Todo mundo fugia de alguém na infância quando estava burlando regras… hehehe

Depois de todos os “tchaus”, ele vai na rodoviária e lá se despede da Rosinha. Para minha surpresa, com DEZOITO ANOS, ele só rouba um selinho na despedida e somente com isso, ela fica muito constrangida. Sério, pergunto a mim mesma porque eles retratam o casal de forma tão infantil. Anos de namoro e eles ainda agem como se tivessem 7 anos. Mas ok, subindo no ônibus que o leva a nova cidade, o exemplar da edição 1 de “Chico Bento moço” se encerra.

Agora vamos lá, comentar alguns pontos interessantes:

1) A história foi divertida? Foi. Mas faltou muito mais, seguiu também a linha da “Turma da Mônica Jovem” e não arriscou os personagens mostrando eles realmente crescidos.

2) Ok, esperar que uma revista dessa trate da realidade de um calouro da universidade é querer demais. Nessa idade são as primeiras cadeiras a pagar, o inicio da vida sexual, o começo das idas a baladas e festas, os estranhos primeiros drinks, enfim, toda aquela coisa que caracteriza nossa entrada na vida adulta. Mas será mesmo que é demais pedir que se retrate com um pouco mais de verdade o dia a dia de um jovem calouro? Com 18 anos os hormônios estão em polvorosa, a energia é abundante e essa edição me pareceu mais com um menino prestes a ir estudar na cidade grande, mas nada de um homem. E poxa, DEZOITO ANOS.

3) Ainda nesse tópico, não consigo realmente entender porque raios nessa vida, Rosinha e Chico namoram há mil anos e são assim ainda. Alô, não preciso nem dizer nada do que jovens normais fazem.

4) Não estou precisamente reclamando do visual do Chico, mas por quê fazer ele tão malhadinho? ´Por que ele parece um ex-caipira que se veste intencionalmente de xadrez para parecer estilosinho e não pelo costume de sempre? Não, não entendo…

5) E além de malhadinho e estilosinho, ele ainda se descaracteriza, como se seu sotaque do interior fosse algo ruim e passa a falar sempre de acordo com as normas da língua portuguesa e quando fala como antigamente, recrimina a atitude como se estivesse cometendo um vacilo? E pior que na revista ele vive dizendo que não esquece suas raízes…

WP_20130907_018

Até rolou beijo, mas Rosinha ficou com essa cara de paspalha. Gargalhando

Fecho esse post dizendo que, bem, a tentativa foi válida, mas o mercado apenas acabou de ganhar outra revista de supostos jovens “coxinha” e perdeu a chance de ver algo que nos surpreendesse com que nós queremos ver: a realidade do jovem calouro indo pra universidade. O medo de se arriscar foi maior e quem perde é o leitor, a grande chance de ver uma produção brasileira usar personagens queridos pra mostrar seu ingresso no fantástico e até assustador mundo adulto.

PS.: Pra quem se interessou, existe um site da “Turma da Mônica Jovem” e lá você encontra mais conteúdo sobre o assunto. O link segue abaixo:

http://www.revistaturmadamonicajovem.com.br/

Quando pesquisei o vídeo do começo do post, encontrei esse trailer de “Mônica Toy” e achei massa demais! Vale a pena conferir:

 

 

Até a próxima! Smiley piscando

3 comentários:

  1. tirar todas as caracteristias que tornavam os personagens unicos e engraçados nao foi uma boa jogada :/

    cascão tomando banho... que absurdo... kkkkkkkkkkk

    ResponderExcluir
  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk cara de paspalha! a rosinha é meio idiota memso, vai ficar uns tr~es anos sem ver o cara da selinho e ainda acha ruim kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    ResponderExcluir

Comenta aí, amigo leitor!