Ensaios(e também um texto): Meu primeiro piercing e cabelo mais curto


Ainda bem que meu pai não gosta de internet. Muito menos de ficar lendo sites. Muito menos deve saber o que é um blog. Hoje divido com vocês a experiência de fazer meu primeiro piercing. Que seja nosso segredo. Alegre

page
Uma amostrinha das fotos :)

Eu olhava pro espelho e alguma coisa tinha mudado. Minha percepção de mim mesma depois das lapadas emocionais de 2012 me transformaram. Eu sentia estar mais madura, porém mais fria. Será que maturidade tinha a ver com isso? Ou será que é o que o mundo quer que a gente pense? Seja qual for a resposta, eu sabia que estava diferente. Queria marcar isso no meu corpo pra que ficasse lembrado que 2013 era um ano novo.
Eu sempre quis colocar um piercing. Na verdade, também gosto de tatuagens, mas sendo realista, eu não poderia bancar uma e não tinha ainda segurança pra isso. Resolvi que estava na hora de furar de novo minha orelha, mas dessa vez pra fazer algo que não era do dia pra noite que eu tinha vontade, era uma vontade de muito tempo. Tomei a decisão e fui a ação. Uma vez feita a escolha, não gosto de demorar pra executá-la. Era então dia 13 de março de 2013.
Eu procurava e procurava na internet, mas eu tinha uma urgência interna de querer fazer logo o danado do furo. Tava, como se diz aqui em Recife, instigada, na vontade de colocar o piercing pra ontem. Disseram-me que perto da pracinha de Boa Viagem, tinha uma farmácia que cobrava 7 reais incluindo o brinco. Achei o preço mais que de graça, então resolvi ir no dia seguinte lá. Eu estava no ônibus indo para a faculdade, pela manhã, quando recebo uma mensagem de Betinho, amigo meu de longa data. Fazia tempo que a gente não saía e ele me perguntou se eu estava livre aquela tarde. Combinamos de ir caminhar na praia, e assim, sem saber, ele foi intimado a me acompanhar na busca da farmácia.
-Então, Betinho… Tem mais uma coisa que quero fazer além de ir caminhar…
- Hmm… Sou todo ouvidos. – disse ele com um tanto de desconfiança nos olhos.
- Então… então… O fato é que eu decidi colocar um piercing! E você vai comigo presenciar esse momento! – falei agitada e esperando pela aprovação dele. Ah, amigos são mesmo pessoas com quem você pode contar. Ele riu e logo soltou a piadinha irônica:
- Poxa, mas tu não tinha mais ninguém pra ir contigo não? – disse ele rindo da minha cara.
- Não.. Tava todo mundo ocupado, aff. – fiz um muxoxo fingido e assim fomos andando na caça atrás da bendita farmácia falando besteiras aleatórias. Depois de caminhar por algum tempo chegamos e dois funcionários que já pareciam ter certa idade atendiam monotamente no balcão. Fiquei intrigada, não passava muita confiança furar a orelha com nenhuma daquelas pessoas. Não era bem a imagem de quem eu chamaria de pessoa que não vai fazer coisa errada na minha orelha. Fiquei com medo de entrar, mas Betinho praticamente me empurrou pra dentro do lugar e me mandou parar de frescura. Puxei coragem de algum lugar e falei com a mulher do balcão:
- É… Moça… Eu queria saber se… – Betinho olhou incisivamente pra mim e num minuto aprumei a fala. – Bom, eu queria furar a orelha, vocês furam aqui?
- Ah, não, aqui não fura não.
- Hmm, tudo bem, mas você sabe algum lugar onde fura? – falei eu já triste pela notícia.
- Olhe, moça, eu sei de nada com certeza não, mas dizem que lá na Santa Maria fura.
A Santa Maria era uma farmácia um pouco escondida lá no Shopping Recife. Olhei pra Betinho e perguntei se ele tinha problemas de andar até lá. Como a aula dele era só a noite, fomos nós nessa saga em busca do lugar pra furar minha orelha. Chegando no shopping, fomos ao balcão de informações pra saber alguma orientação pra alcançar a danada da farmácia. Entrei esperançosa nela, esperando que finalmente tivesse achado um lugar propício para fazer o piercing. Dessa vez os atendentes pareciam promissores, com uma cara que passava mais segurança para realizar o procedimento. Com mais coragem, fui falar com eles:
- Olá, eu queria saber se vocês furam orelha aqui. Mas não é aqueles furos comuns não, eu queria furar aqui… – e então indiquei onde era a região que eu pretendia furar.
- Bom, aqui a gente furava, mas já faz algum tempo que acabaram os brincos e nunca mais repomos…
- Poxa, moço… Já fui em dois lugares e tá muito complicado de encontrar quem faça isso… – disse eu já olhando cabisbaixa achando que nunca ia conseguir encontrar um lugar pra furar minha orelha. A ideia do piercing começava a parecer impossível.
- Ah, olha, eu sei que ali em Edelson, eles fazem piercings, vai lá ver! – sugeriu uma das atendentes sorrindo, vendo meu estado desapontado. Não recuperei as esperanças de cara porque já tinham sido duas tentativas mal-sucedidas em uma tarde. Mas resolvi tentar, já que estava ali mesmo. Betinho também parecia não acreditar mais que eu ia conseguir, até que avistamos a entrada de Edelson: um salão de cabelereiro elitista aqui da cidade, com um aviso na porta dizendo que fazia piercings E tatuagens. Meus olhos devem ter brilhado de emoção. E meu bolso chorado com a iminência de pobreza.
Só de entrar no salão, já dava pra sentir que o preço seria salgado. O telefone não parava de tocar, a secretária parecia louca atendendo pessoas e mais pessoas marcando horários, e fiquei impressionada que apesar dos valores cobrados, o tal lugar era bastante disputado. Fiquei esperando educadamente que alguém pudesse falar comigo e um moço com feições afeminadas dirigiu-se a mim.
- Entãooo, querida, o que vai ser pra hoje?? – falou ele com um jeito meio arrastado para mim.
- Bom, eu vi ali na entrada que vocês fazem piercings. Eu queria furar minha orelha.
- Ah, você deu sorte não, amor, a nossa tatuadora já largou. Venha aqui amanhã, ela trabalha até as seis horas da noite.
Eram seis e meia da noite. Talvez aquela não fosse mesmo a hora de fazer o piercing. Perguntei depois quanto custava e entendi o rapaz me dizer que seriam 35 reais. Uma lapada no meu orçamento, mas eu estava tão disposta a fazer que iria dar meu jeito. Resolvi me despedir das comidas “remosas”, já que com o furo feito, eu não poderia comer mais pizza de calabresa por pelo menos um mês.
Dia 15 de março começou com o medo e a certeza de que o momento havia chegado. Eu ia furar minha orelha.
EU IA FURAR MINHA ORELHA.
De repente minha barriga manifesta uma singela mas constante dorzinha, aquele frio por dentro de quando a gente vai fazer algo novo e que pode ser doloroso.  Mas eu também sabia que queria muito aquilo e não iria voltar atrás.
Meus planos eram de ir a UFPE, voltar pra Boa Viagem depois, fazer o piercing, voltar a UFPE novamente e assistir a última aula da tarde. O dia passou voando e quando eu vi, estava eu e Betinho novamente na frente do salão Edelson. Eu sabia que fazer isso sozinha ia ser desmotivante e queria o apoio dele ali. Afinal, não é todo dia que a pessoa fura permanentemente uma parte do corpo. Falei novamente com o moço de feições afeminadas. Ele chamou então a tatuadora e eu subi para a sala onde ela atendia.
Era uma moça bastante simpática, com umas mechas roxas leves no cabelo preto. Tinha alguns piercings também, mas no geral, estava com uma roupa que transparecia muito profissionalismo. Eu desconfiava que por trás daquilo ela devia curtir um bom rock. Sorrindo para mim, ela perguntou onde eu queria furar. Apontei o cantinho que eu queria colocar o tal piercing.
- Ah, é um furo tranquilo, vai doer quase nada. Na hora que eu furar você vai sentir queimando, mas com o tempo passa. – disse ela gentilmente. O jeito que ela falava me passava confiança, parecia que seria tranquilo. Ela então começa a passar álcool no algodão e depois no local do furo e fecho os olhos pra não olhar a pistola que é usada pra fazer o buraco. Betinho observava tudo calado, com um sorriso meio debochado no rosto.
A tatuadora havia posicionado a pistola, pelo menos eu sentia isso. Meus olhos já estavam fechados.
- Posso furar? – disse ela docemente. Parecia que ia ser rápido, parecia até que não ia doer. Eu já estava achando que aquilo nem seria ruim, quando sinto a queimação chegar. Ela não tinha esperado eu confirmar.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAIIIEE!!!!!!!!!!!!!!!!! – grito eu, tomada de surpresa pela dor inesperada. Ok, mas que deveria ser esperada, só que dor sempre é dor, e ninguém espera realmente que algo possa doer.
-HAHAHAHAHAHA. –é, eu deveria estar doida, porque assim que gritei de dor, eu começo a rir achando aquilo muito divertido, apesar de continuar doendo. Como um ser humano podia ter uma reação dessa eu não saberia explicar.
- Poxa vida, se arrependimento matasse.. Eu devia ter gravado essa cena! Ahaha. – riu também Betinho, aliviado depois de eu começar a rir também.
- Isso é comum, mas logo vai passar a dorzinha. Pronto, agora eu coloquei o brinco. Você que precisa cuidar, colocar antisséptico e lavar pra não ficar casquinhas e coisa e tal, por um mês viu? Tá liberada. – a moça era mesmo simpática, pensei eu. Até que chegou a hora de falar de números.
- Ah, muito obrigada! E quanto eu te devo?
- Hmm, paga lá embaixo, no balcão, são 85 reais.
Nesse momento eu tive uma semi parada cardíaca.
OITENTA E CINCO REAIS.
EU TAVA LASCADA.
Previ a miséria que seria os almoços até o final do mês, isso se eu tivesse condição de almoçar.
Agradeci ainda mais a presença de Betinho ali, porque senão eu não teria dinheiro suficiente. Eu levava 65 reais na carteira porque gosto de ser prevenida, mas pra aquilo eu jamais estava preparada. Com o devido empréstimo de 20 reais, fui salva e tive condições de pagar pelo furo mais caro da minha vida. Acho que nem fazendo exame de sangue, eu ficava potencialmente desprovida de verba como fiquei depois do piercing.
Quando parei pra olhar em casa, fiquei satisfeita. O furo tinha doído, tinha sido difícil de achar um lugar legal pra fazer, tinha sido muito caro, mas eu estava com ele e ele fazia o que era planejado: marcava minha vida, marcava 2013 no meu corpo. Se eu me arrependo pelo que gastei? Pelo tempo na procura? Por ter que cuidar dele todo dia pra não infeccionar? Por ter tido que almoçar bolacha cream cracker alguns dias?
Não, não me arrependo desse meu piercing furta-cor. Esse detalhe virou um charme discreto em mim e mais uma mostra que estou crescendo e podendo fazer minhas escolhas. Que meu pai não leia esse post! hahaha
Em seguida, as fotos com o danado do piercing e também, já que eu tava nessa fase de querer umas mudanças, dei uma boa diminuída no cabelão. Ok, dessa parte eu me arrependo um pouco, mas já já cresce. Smiley piscando


4 comentários:

  1. Quanta luta pra furar, eim?!
    Mas, como você disse:"Um charme discreto", que a tornou ainda mais charmosa e linda! =)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. kkkkkkk pois é, foi uma luta danada!
      Valeu pelo elogio, volte sempre por aqui :)

      Excluir

Comenta aí, amigo leitor!